Dr. Mario Celso Schmitt - Pediatra Blumenau - Pediatria

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USO DE CHUPETA EM CRIANÇAS AMAMENTADAS: DEVE SER EVITADO?

28/08/2017

O uso de chupeta tem sido identificado como um fator associado à menor duração do AM e do aleitamento materno exclusivo (AME) em estudos observacionais, com evidências consistentes de que o desmame precoce entre um e 24 meses é mais frequente em crianças usuárias de chupeta, quando comparadas com crianças que não possuem esse hábito. Dados do Brasil confi rmam a chupeta como o fator mais fortemente associado à interrupção da amamentação exclusiva, entre 1999 e 2008, e que a redução no seu uso contribuiu signifi cativamente para o aumento das taxas de AME em nível populacional neste período de 9 anos. Entretanto, devido a fatores de confusão e vieses, não está claro se essa associação é de fato causal. Embora alguns pesquisadores tenham sugerido que o uso de chupeta pode interferir no AM14-16, outros acreditam que esse hábito é um marcador de problemas na amamentação. Consequentemente, as recomendações para uso de chupeta variam em todo o mundo. A OMS desencoraja fortemente o uso de chupetas em crianças amamentadas, sendo essa recomendação parte de um dos Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno, em que se baseia a Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Por outro lado, para a prevenção da síndrome da morte súbita do lactente (SMSL), a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda, para as mulheres que desejam amamentar, que a chupeta seja introduzida após o AM estar bem estabelecido, quando a criança estiver em torno de 3 a 4 semanas de vida.

Como a chupeta afeta a amamentação?

Pelo menos três hipóteses (não excludentes entre si) poderiam explicar a relação entre uso de chupeta e menor duração da amamentação.

1) A introdução da chupeta pode causar interrupção do AM. A hipótese de que o uso de chupeta seria responsável por uma menor duração do AM, baseia- -se nos relatos de que a introdução e o padrão de uso de chupeta (frequência e intensidade) poderiam levar o recém-nascido a recusar o peito ou aumentar o espaçamento entre as mamadas. Uma das proposições que apoiam o componente de causalidade é a preferência do bebê pelo bico artificial, influenciando sua habilidade oral para realizar a ordenha no peito. Esse fenômeno é conhecido como “confusão de bicos” ou “confusão de sucção” (descrito como a dificuldade do bebê em encontrar a correta configuração oral para realizar a pega e a ordenha da mama após a exposição a um bico artificial). Além disso, há estudos relatando que as crianças que usam chupeta mamam com menos frequência, determinando menor produção de leite e, consequentemente, necessidade de suplementação com fórmula láctea e, por fim, ao desmame.

2) A introdução da chupeta ocorre devido a problemas na amamentação. A hipótese de que o uso de chupeta seria uma consequência e não a causa de uma menor duração do AM baseia-se na interpretação de que o uso de chupeta seria um marcador de dificuldades na amamentação. Mães que experimentam dificuldade na amamentação estariam desconfortáveis, inseguras, ansiosas ou, ainda, pouco motivadas a amamentar, ficando mais propensas a oferecerem chupeta a seus filhos e a desmamarem mais precocemente.

3) Temperamento do bebê, interação mãe-bebê e perfi l da mãe (e de suas famílias). Nessa hipótese, a amamentação e a oferta de chupeta às crianças são influenciadas  pelo temperamento/comportamento do bebê durante a amamentação e pela forma como se estabelece a interação mãe-bebê-família. Além disso, é possível que o perfi l das mulheres que não oferecem chupeta aos seus filhos, apesar da pressão cultural para fazê-lo, favoreça também o cumprimento de outras recomendações relacionadas à saúde, como por exemplo, a duração da amamentação por mais tempo. Para cada uma dessas hipóteses é possível intervir no sentido de dar suporte às mães e suas famílias, em prol da manutenção da amamentação, informando sempre de maneira adequada.

 

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